segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fotografia documental: de memória à fonte de informação

A fotografia, tão comum atualmente, e por vezes, consequentemente banalizada, é uma fonte de informação singular, diferente das fontes usuais do conhecimento. Para Dubois (1993), existe uma espécie de consenso de princípio que pretende que o verdadeiro documento fotográfico “presta contas do mundo com fidelidade”, não restando dúvidas de que a fotografia é uma representação do real.

Primeira fotografia de Niépce

A busca do homem de retratar o cotidiano, esta tendência à reprodução de imagens, surge remotamente com os desenhos rupestres, entretanto a primeira fotografia é datada do ano de 1826, com o francês Joseph Nicéphore Niépce produzindo-a em uma placa de estanho coberta com betume da Judéia, deixando em exposição solar por oito horas, assim fazendo surgir a imagem. Dando um salto no tempo, a fotografia não é mais produzida assim. O que levava horas, hoje são segundos, se antes parecia coisa de cientista, hoje qualquer um pode “dar um clic” e está feita a foto. A fotografia digital revolucionou o mundo fotográfico, minimizando custos, acelerando processos e facilitando a produção, manipulação, armazenamento e transmissão e imagens.

A partir das representações que uma informação fotográfica pode transmitir, a fotografia pode ser considerada uma fonte inesgotável de informação. Um documento textual delimita suas informações a partir do que é escrito, algo pragmático. Um documento fotográfico permeia suas informações a partir do que é visto, possui inúmeras possibilidades de compreensão, algo plural e subjetivo.  Define Peter apud Brigidi (2009), que, ao contrário da palavra escrita ou falada, a fotografia é uma forma de comunicação sem barreiras linguísticas ou geográficas, fazendo com que seu significado seja ampliado. Por tais constatações acerca da fotografia, surge – especificamente na Ciência da Informação – a questão de como lidar com a fotografia documental enquanto memória e fonte de informação.

Segundo, Manini (2004), todo documento fotográfico requer tratamento específico, no que tange seu conteúdo temático, sua organização física, sua preservação e conservação. A fotografia, quanto a um instrumento de pesquisa, requer um tratamento adequado. É necessário o profissional da Ciência da Informação saber “interrogar” o documento fotográfico, para que a informação seja útil na construção histórica da memória e na produção de conhecimento. Kossoy (1993), diz que as fotografias são:

“[...] portadoras de significados não explícitos de omissões pensadas, calculadas, que aguardam pela competente decifração. Seu potencial informativo poderá ser alcançado na medida em que esses fragmentos forem contextualizados na trama histórica em seus múltiplos desdobramentos (sociais, políticos, econômicos, religiosos, artísticos, culturais) que circunscreveu no tempo e no espaço o ato da tomada do registro”.
Desse modo, o profissional da informação surge como mediador da informação e intérprete da imagem, observando as peculiaridades das fotografias custodiadas, sobretudo como documento e fonte de pesquisa, buscando compreender a diversidade de tal fonte de informação. Nessa perspectiva, o usuário de acervos fotográficos não se concentra apenas naquilo que a fotografia traz como conteúdo, mas na maneira como este conteúdo é expresso, como ele aparece enquanto registro imagético (MANINI, 2004, p.20).

No âmbito da Ciência da Informação, o tratamento adequado da informação fotográfica visa praticidade e agilidade em sua recuperação, culminando ao propósito de dar acesso ao usuário e a preservação do acervo.

Ao possibilitar o constante desejo de eternizar a condição humana, por certo transitória, a imagem fotográfica se aproxima de outras iconografias produzidas no passado. Como essas, a fotografia também desperta sentimentos [...]. Reúne e separa [...], informa e celebra, reedita e produz comportamentos e valores. Comunica e simboliza. Representa. (BORGES, 2005, p. 37).
A fotografia documental proporciona um resgate à memória, a retomada de acontecimentos e a apreciação da diversidade cultural.



Referências:

BORGES, Maria Eliza Linhares. História e Fotografia. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

BRIGIDI, Fabiana Hennies. Fotografia: uma fonte de informação. Porto Alegre: UFRGS, 2009. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10183/18712>. Acesso em: 20 abr. 2011.

DUBOIS, Philippe. Da verossimilhança ao índice. In:  O Ato Fotográfico e Outros Ensaios. 2. Ed. Campinas: Papirus, 1993. P. 23-56.

KOSSOY, Boris. Decifrando a realidade interior das imagens do passado. Acervo: Revista do Arquivo Nacional. V.6, n.1/2, jan./dez., 1993.

MANINI, Miriam Paula. Análise documentária de fotografias: leitura de imagens incluindo sua dimensão expressiva. Cenário Arquivístico, v. 3, n. 1, p. 16-28, 2004. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10482/946>. Acesso em: 19 abr. 2011.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A prática avaliativa de um blog

Bom, a partir do post anterior, em que pude explicitar a importância de se ter critérios quanto às (inúmeras) informações na Internet, sobretudo nos blogs que, conforme Alvim (2007), possibilitam a partilha de informação, criando uma nova comunidade de interesses, rompendo com o espaço e o tempo, assim fazendo com que todas as opiniões e assuntos sejam expostos publicamente, desse modo sendo um potencial de comunicação, aprendizagem e gestão da informação. Agora vem a parte prática de avaliar a qualidade de um blog!


O escolhido foi o Museu do Cinema e, dentre seis grandes blocos a qualidade do blog é analisada, em formato de checklist e ao final há uma avaliação como um todo do blog.

PARÂMETROS GERAIS

Tipologia do blog (pessoal, institucional): Pessoal
Têm objetivos concretos e bem definidos? Sim
Se os objetivos estão definidos, os conteúdos se ajustam a eles? Sim
Existe uma política editorial de aceitação de contribuições? Não
Tem domínio próprio? Sim
Tem uma URL correta, clara e fácil de recordar? Sim
Mostra, de forma precisa e completa, que conteúdos ou serviços oferece? Sim
A estrutura geral do blog está orientada ao usuário? Não
É coerente o desenho (layout) geral do blog? Sim
É atualizado periodicamente? Sim
Oferece algum tipo de subscrição? Sim

IDENTIDADE, INFORMAÇÃO E SERVIÇOS

A identidade do blog é mostrada claramente em todas as páginas? Sim
Existe informação sobre(s) criador(es) do blog? Não ¹
Existe um logotipo? Sim
O logotipo é significativo, identificável e visível? Sim
Existe alguma forma de contato com os responsáveis pelo blog? Há como forma de contato, as redes sociais das quais o blog participa e com comentários nos posts, já que o proprietário responde os mesmos.
Nos posts:
 - é mostrada claramente informação sobre o autor? Não
 - é mostrada claramente a data de publicação? Sim
 - oferece links permanentes? Sim
É dada informação sobre número de usuários registrados e convidados? Não
Existe um calendário de publicação? Não
Existe um arquivo onde consultar posts anteriores? Sim
Existe alguma declaração ética? Não
Oferece links para outros blogs? Sim
Oferece links externos a outros recursos de informação? Sim
Apresenta uma lista de palavras-chave para cada post? Não
Está traduzido em outros idiomas? Não
Existe algum tipo de controle sobre conteúdos polêmicos? Não
Possui uma seção de ajuda? Não
O link da seção de “Ajuda” está colocado em uma zona visível? Não se aplica
Oferece uma vista prévia antes de publicar? Não se aplica
Existe algum tipo de buscador? Sim
O buscador encontra-se facilmente acessível? Sim
Permite a busca avançada? Não
Mostra os resultados de forma compreensível para o usuário? Sim
Dispõe de ajuda para realizar a busca? Não
Qual o número médio de comentários (calcular sobre os 10 últimos posts)? 3,1

ESTRUTURAS E NAVEGAÇÃO

A estrutura de organização e navegação está adequada? Não
Tem algum sistema de navegação distinto da navegação por datas? Sim
Os posts estão classificados tematicamente? Sim
Que número de clics são necessários para ver os comentários aos posts? Um clic
Que número de clics são necessários para fazer comentários aos posts? Dois clics
Os links são facilmente reconhecíveis como tais? Sim
A caracterização dos links indica seu estado (visitados, ativos, etc.)? Não
Existem elementos de navegação que orientem o usuário sobre onde está e como desfazer sua navegação? Não
Existem páginas “órfãos”? Não

LAYOUT DA PÁGINA

São aproveitadas as zonas de alta hierarquia informativa da página para conteúdos de maior relevância? Não
Foi evitada a sobrecarga informativa? Sim
É uma interface limpa, sem ruído visual? Sim
Existem zonas em “branco” entre os objetos informativos da página, para poder descansar a vista? Sim
É feito um uso correto do espaço visual da página? Não
É utilizada corretamente a hierarquia visual para expressar as relações do tipo “parte de” entre os elementos da página? Sim

ACESSIBILIDADE

O tamanho da fonte foi definido de forma relativa? Sim
O tipo de fonte, efeitos tipográficos, tamanho da linha e alinhamento empregados facilitam a leitura? Sim
Existe um alto contraste entre a cor da fonte e o fundo? Sim
Inclui um texto alternativo que descreve o conteúdo das imagens apresentadas? Sim
O site web é compatível com os diferentes navegadores? Sim
Visualiza-se corretamente com diferentes resoluções de tela? Sim
Pode-se imprimir a página sem problemas? Sim

       

VISIBILIDADE

Link – Google: Sim
Link – Yahoo: Sim
Link – MSN: Sim
PageRank: zero
Twitter: Sim
YouTube: Sim
Orkut: Sim
Facebook: Sim
Unik: Não
Outros. Qual(is)? Flickr

AVALIAÇÃO GLOBAL

Discute a arte do cinema, focalizando o tema em textos concisos e de opinião sobre variados filmes. Apresenta o blog como narrativas sobre filmes, diretores e atores, dando uma visão geral do que o leitor poderá esperar de tal filme. Caracteriza o blog como realmente seu título transmite, um verdadeiro museu do cinema, pontuado pela diversidade de histórias e períodos ao longo dos anos. A abordagem é simples e objetiva, deixando transparecer ao leitor de que o criador do blog tem total propriedade no assunto de que trata, mesmo o criador não deixando clara sua identidade. Inclui além de textos bem formulados, imagens, vídeos e informações adicionais para o total entendimento do conteúdo. Demonstra estrutura mal aproveitada, desfavorecendo uma navegação rápida. Destaca um blog de conteúdo vasto e qualificado, todavia deixa a desejar na orientação do usuário para com a operabilidade do blog. Conclui uma informação qualificada e confiável, mas necessita que o usuário encontre-a de forma direta e facilmente acessível. Sugere aproveitamento da zona superior da página – que é de alta hierarquia informativa – e inclusão da navegação por datas.

Avaliado por: Laura Gomes Machado
Data da avaliação: 17/04/2011

¹ O blog não identifica claramente o seu criador, mas a partir de comentários feitos por leitores, deduz-se, conforme pude verificar nesse link, que o criador chama-se Cassiano.

Até mais! =)


Referências:

ALVIM, Luisa. A Avaliação da Qualidade de Blogues. 2007. Disponível em: <badinfo.apbad.pt/congresso9/COM105.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2011.

JIMÉNEZ HIDALGO, Sonia; SALVADOR BRUNA, Javier. "Evaluación formal de blogs con contenidos académicos y de investigación en el área de documentación". En: El profesional de la información, 2007, marzo-abril, v. 16, n. 2, pp. 114-122.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Apontando uma boa informação

No mundo virtual, “giram” muitas informações, produz-se conhecimento a cada minuto em qualquer canto do planeta. Com essa grande dimensão de informações que todos temos ao alcance, há de se fazer certa seleção do que nos parece confiável na Internet. “A importância de se avaliar a informação disponível na Internet é bastante significativa para quem a utiliza para a pesquisa e é de extrema relevância para enfatizar a inconstância da qualidade das informações encontradas” (TOMAÉL et. al., 2001, p. 4).
Koehler apud Tomaél (2001, p. 4), pondera que a Internet não representa uma nova ordem de magnitude em qualidade de informação, embora o seja em quantidade. No entanto, representa um processo evolutivo com implicações sociais, políticas, econômicas e institucionais em questões como: produção, análise, distribuição e recuperação de informação.

Mas e quanto aos blogs, será que podem ser considerados fontes confiáveis de informação? Os blogs, segundo Jiménez Hidalgo e Salvador Bruna (2007), [...] oferecem a possibilidade de estabelecer uma comunicação de duplo sentido com seus usuários, já estando registrados ou simplesmente atuando como anônimos. Embora qualquer conteúdo publicado na Internet, por definição, exige um nível de interatividade maior que o necessário em outros meios, no caso dos blogs é sem dúvida superior [...].
Como quaisquer outros canais de comunicação apresentam alguns problemas inerentes a todo meio de intercâmbio de informação. Um deles, sem dúvida, é o que faz referência a veracidade e qualidade dos conteúdos que transmite. No caso dos blogs acadêmicos e científicos este aspecto adquire especial relevância, já que geralmente carecem de controles de conteúdo [...] (JIMÉNEZ HIDALGO E SALVADOR BRUNA, Op. cit., p.4).

O blog, assim como qualquer outro veículo de informação, precisa de critérios para ser avaliado; para que a informação contida nele possa ser pertinente e que desse modo produza conhecimento. Na perspectiva de Alvim (2007), são citados oito indicadores para haver considerações acerca da seriedade das informações oriundas de blogs. São eles:
- tema;
- conteúdo;
- acesso e facilidade de uso;
- desenho gráfico;
- público e objetivos;
- divulgação;
- custos;
- conservação e comunicação.


Um blog que se encontra dentro dos parâmetros acima citados, passando a seus leitores a confiabilidade de suas informações, pode ser considerado, conforme Alvim (2007), uma ferramenta que agiliza a comunicação informal da Ciência, e complementando, para Merlo Vega apud Alvim (2007 p.2), “[...] uma fonte de informação só é válida se transporta, em si mesma, informação útil e se a transmite de uma forma simples.” Ou seja, além de conter informações que possam produzir conhecimento, o blog deve ser de fácil acessibilidade e conciso no que queira transmitir aos leitores.

No que diz respeito à Ciência da Informação, Alvim (2007) coloca que blog serve para promover relações na comunidade profissional, baseando-se na partilha de informações, de fontes, de notícias, de novidades, na atualização de conhecimentos e na discussão e expressão de opinião, humanizando as estruturas de documentação e informação, aproximando desse modo o leitor à instituição, possuindo um componente social importante.
“No meio acadêmico [...] é necessária muita cautela na seleção da informação, porque delas poderão se originar dissertações, teses, pesquisas oriundas de outros interesses, entre outras. Dessa forma, se as fontes não forem confiáveis, o pesquisador além de perder tempo poderá invalidar a sua pesquisa” (SUGIMOTO et. al. 2008, p.2).

Verdadeiras ou não, as informações estão soltas na blogosfera. “A capacidade de selecionar informação com qualidade determina o êxito do indivíduo, no contexto da sociedade do conhecimento, e a qualidade da informação é determinada pela capacidade de satisfazer as necessidades de informação do indivíduo que a usa” (ALVIM, 2007, p.3).
Cabe a quem quer pesquisá-las, compreender se são úteis, se os blogs são um canal de informação aceitável e produtivo.
É isso aí, há de se ter critérios!


Referências:

ALVIM, Luisa. A Avaliação da Qualidade de Blogues. 2007. Disponível em: <badinfo.apbad.pt/congresso9/COM105.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2011.

JIMÉNEZ HIDALGO, Sonia; SALVADOR BRUNA, Javier. “Evaluación formal de blogs con contenidos académicos y de investigación en el área de documentación”. En: El profesional de la información, 2007, marzo-abril, v. 16, n. 2, pp. 114-122.

SUGIMOTO, Adriana et. al. Avaliação de Objeto de Aprendizagem: Critérios de Seleção de Informação na Web. Porto Alegre: ECHOS (UFRGS), 2008. Disponível em: <http://200.169.53.89/download/CD%20congressos/2008/V%20ESUD/trabs/t38677.pdf> Acesso em: 10 abr. 2011.

TOMAÉL, Maria Inês et. al. Avaliação de Fontes de Informação na Internet: critérios de qualidade. Londrina, 2001. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/293>. Acesso em: 10 abr. 2011.